Resenha: Uma praça em Antuérpia

Uma praça em Antuérpia publicado pela editora Record é o segundo livro da escritora Luize Valente, seu primeiro livro publicado foi O segredo do Oratório. Além de escritora, Luize é jornalista e documentarista, ela também é autora com Elaine Eiger, do livro Israel: Rotas e Raizes, e dos documentários  Caminho da Mémoria: A trajetória dos judeus em Portugal, e A estrela Oculta do Sertão. Seu livro O Segredo do Oratório foi finalista do prêmio de São Paulo de Literatura em 2013 e após sua 4° edição aqui no Brasil, foi publicado na Holanda. Uma praça em Antuérpia também foi sucesso no Brasil e quando chegou na 3° edição a obra foi publicada em Portugal. Atualmente ela está escrevendo seu terceiro romance, Sonata em Auschwitz.

Nessa história conhecemos a trajetória de Olivia, uma senhora portuguesa de 83 anos que acabara de perder o filho, a trama  começa no primeiro dia do ano de 2000, na cidade de Rio de Janeiro; em um momento de dor como esta, ela decide olhar fotos antigas na companhia de sua neta, entre elas uma traz de volta um passado jamais revelado, do dia 4 de fevereiro de 1940, em uma praça de Antuérpia. Ela resolve dividir esse segredo com sua neta Tita, que passava um momento difícil por viver mais um aborto espontâneo, o que estreitava mais ainda a relação entre neta e vó.

A partir de então, viajamos no tempo e voltamos para o Norte de Portugal, no ano de 1916, quando nascem Olivia e Clarice gêmeas idênticas, com a morte de sua mãe no parto e com o descaso do pai que as culpava pela morte da mulher, elas são criadas pela vó. Já crescidas, Olivia casa-se com seu amigo de infância Antônio e parte para Lisboa. Após a avô morrer Clarice também vai morar com a irmã na capital e é lá que ela conhece, Theodor, o grande amor da sua vida. 

‘’Bashert. Theodor era seu bashert, o que lhe era predestinado. Sua alma gêmea, seu destino. Um amor que não precisava de quantidade: mesmo que a vida os separasse, o pouco tempo valeria pela eternidade. Eram poucas as pessoas que encontravam seu bashert. Ela havia encontrado o seu.’’ 

Theodor é um pianista que nutre uma paixão imensa pela música, mas por ser judeu e comunista é perseguido pelo governo fascista de Salazar, por conta disso ele e Clarice são obrigados a se separar, nesse meio tempo Clarice descobre que esta grávida e obrigasse a sair de Lisboa e ir morar em uma cidadezinha afastada, lá ela conhece Mariano ,personagem crucial na história. Quando Theodor descobre a gravidez de Clarice, eles se reencontram e partem para Bélgica, em Antuérpia, lugar que nasce Bernardo e onde eles passam por breves momentos felizes. Com o início da Segunda Guerra, a Alemanha nazista dominada por Hitler passa a bombardear os países europeus, nesse momento eles passam a fugir da barbárie nazi fascista com a ajuda de desconhecidos, e é a partir dai que a vida dessa família mudará drasticamente.

“A guerra tinha mesmo esse estranho poder de afastar entes queridos e unir desconhecidos, para sempre”.  

Desde o início do livro nós já sabemos parte do segredo, mas o motivo de como tudo aconteceu só é revelado aos poucos, o que deixou a leitura muito mais eletrizante e emocionante. Além de ser uma trama recheada de suspense, é uma história delicada, poética e inspiradora, que fala sobre o amor, a esperança, o perdão e união em meio ao horror e a intolerância da Segunda Guerra Mundial. E se preparem, pois o final é inesperado e surpreendente. 

Outro ponto excelente do livro é que mesmo sendo uma história fictícia, a trama é recheada de fatos históricos, entre eles temos o personagem Aristides Sousa Mendes, que foi um cônsul português que salvou milhares de pessoas judias e não judias que fugiam do nazismo, contrariando as ordens do governo ditador de Antônio Salazar. Isso lhe custou o afastamento da carreira e a morte na miséria, seu ato de bondade e coragem só foi reconhecido após a sua morte.

Conheci esse livro graças a uma prima querida que me emprestou, e não imaginava que fosse gostar tanto, é uma das histórias mais lindas e comoventes que eu já li, com personagens marcantes e um enredo de tirar o fôlego. Ouso dizer que o livro se tornou minha história favorita sobre a II Guerra Mundial. 

Uma literatura histórica que considero não só importante como obrigatória, pois infelizmente, mesmo com todos esses exemplos ainda vemos um mundo intolerante, injusto, que não respeita as individualidades e diferenças das pessoas, sejam elas políticas, religiosas ou comportamentais.

Luize possui uma escrita prazerosa e rica em detalhes, uma escritora brasileira que merece todo o reconhecimento por esse trabalho encantador, terminei o livro com vontade de ler mais Luize Valente, foi uma história que me deixou emocionada e que me arrancou muitas lágrimas. Acredite, esse livro está esperando para ser lido por você.