segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Resenha: O que há de estranho em mim



Título: O Que Há De Estranho Em Mim
Autor: Gayle Forman
Páginas:  224
Editora: Arqueiro


  "O que há de estranho em mim", escrito por Gayle Forman conhecida pelas obras "Se eu ficar", "Eu estive aqui" e a trilogia "Apenas um dia". Teve seu lançamento no Brasil em janeiro deste ano pela Editora Arqueiro. O livro possui 224 páginas divididas em 28 capítulos narrado em primeira pessoa.
Nesta história conhecemos Brit, uma jovem de 16 anos 'quase' comum. Ela toca em uma banda, tem tatuagens, cabelo colorido e já teve uma vida perfeita, até sua mãe ficar doente e mudar todo o rumo de sua vida. Seu pai acabou se casando novamente e Brit não se dá nada bem com sua madrasta (até a chama de Monstra). Para Brit tudo isso aconteceu rápido demais, até seu pai deixou de ser ele mesmo e ela culpa a madrasta por toda essa mudança de vida.

"A vida real era maravilhosa e, por mais distante que parecesse naquele momento, ainda existia. Eu ainda existia."

O que vai fazer realmente sua vida mudar é quando seu pai inventa uma viagem em família ao Grand Canyon, justo quando a banda de Brit tem uma importante apresentação, ela discute com o pai, mas mesmo não concordando, acaba aceitando ir viajar. No dia da tão esperada viagem, ela nota algo estranho, sua madrasta e seu meio-irmão não irão junto com eles, viajarão mais tarde de avião, enquanto eles seguem de carro. Mas o que Brit não esperava que a "viagem" era uma farsa. Seu pai decide interná-la em uma clínica psiquiátrica/reformatório juvenil chamada Red Rock, com regras rigorosas que promete corrigir comportamentos "errados" como a rebeldia adolescente, o T.D.O (Transtorno Desafiador Opositivo), tendências suicidas, homossexualismo e distúrbios alimentares.


       O pai de Brit acredita que está ajudando a filha, ele tem medo que ela acabe igual sua mãe, deste modo, colocando-a em uma instituição que curaria essa "rebeldia" de Brit e a ajudaria a lidar com seus problemas. Mas a Red Rock está longe de ser uma ajuda. Essa instituição é como se fosse uma prisão, dividido em seis níveis: O nível 1 ela fica em uma solitária, isolada, sem contato com nenhuma das outras internas e do mundo a fora. No Nível 2 pode ter suas roupas, receber apostilas para estudar e fazer refeições fora do quarto. No nível 3 pode receber e enviar cartas. No nível 4 pode receber e fazer telefonemas. No Nível 5 pode receber visitas e finalmente o nível 6 além de ser o nível que mostra que está "curada" e pode-se ir para casa, é o nível que a interna poderá sair do campus para dar algum passeio e liderar grupos de terapias. Mas a cada inflação cometida, acaba rebaixando de nível. 

"Mas à noite, depois que apagavam as luzes e trancavam a porta por fora, eu abria as comportas e chorava até ensopar o travesseiro."

Mas os métodos de terapia nesse lugar é muito duvidoso e chega a ser cruel. Para recuperar de traumas, acreditam que insultar, ameaçar, menosprezar as jovens até que chorem e se sintam mal é a solução, ficando cara a cara com seus fantasmas da vida. Fora que se você dedurar alguma interna que estiver fora das regras, poderá subir de nível como recompensa e conseguir mais rápido a liberdade. Junto com a Terapia Física com longas caminhadas debaixo do sol com apenas uma garrafa de água e uma maçã. Elas também tem que realizar trabalhos em um pátio cheio de blocos de cimento, conhecida como Pedreira. As meninas tinham que carregá-los debaixo do forte sol até que se formasse um muro para depois desfaze-lo (assim sucessivamente) e com direito a idas ao banheiro de 1 em 1 hora. Tem até uma parte que Brit faz xixi ali mesmo no chão, pois não a liberaram ir ao banheiro antes deste horário imposto.
Apesar de todo o sofrimento vivido neste lugar, Brit conhece quatro garotas, a Bebe, Cassie, V. e Martha que se tornam companheiras, criando um clube chamado "Divinamente Fabuloso e Ultra Exclusivo Clube das Malucas Irmãs Insanas" e acabam se unindo contra a opressão e juntas planejam uma forma de se livrar desse lugar sombrio que de vez de ajudá-las, as fazem mais mal, chegando até a pensarem que realmente são 'loucas'.


O que mais me chamou atenção no livro foi por se tratar de temas contemporâneos, adoro esses livros que saem da rotina (romances em geral), apesar que tem um romance no livro, mas não chega a ser aprofundado ou tomando o foco de toda história, mas fiquei torcendo para que Brit e Jed ficassem juntos no final. O livro proporciona uma leitura rápida e fluida, envolvente e intensa, algumas partes tristes e agoniantes e sentimos as emoções de Brit em cada momento. Também há flashbacks de Brit que permitem ao leitor conhecer suas vivências anteriores e entender ainda mais sua vida.

"Naquele momento de maior fraqueza, quando você se encontra abatida. E não consegue enxergar com clareza, achando que não há mais saída. Que não tem mais gás. Antes de ceder à escuridão, se você olhar para trás, vai encontrar a minha mão." 

Gayle Forman criou personagens reais, sobre a abordagem de alguns assuntos e como são vistos em nossa sociedade, como o caso de Cassie que é lésbica e seus pais a internaram no Red Rock com a esperança de ter uma "cura gay". Infelizmente é algo que acontece muito nos dias de hoje a falta de aceitação das pessoas. Além disso, cada personagem tem sua característica própria e chegamos a pensar por que elas estão internadas, pois parecem normais. O fato é que na sociedade que vivemos, qualquer pensamento ou comportamento diferente você é visto como estranho ou louco, como foi o caso dessas meninas, elas não tinham problemas sérios, apenas eram incompreendidas no mundo, afinal, que adolescente nunca se perguntou "O que há de estranho em mim?". Impossível não se identificar em algumas partes. 
A temática desse livro me lembrou muito "Garota Interrompida", na qual fala sobre os limites da loucura e da sanidade humana, o que é considerado normal ou não, porém 'Garota Interrompida' se passa na década de 60 e 'o que há de estranho em mim' nos dias atuais.

"– É que a gente acha que a loucura e a sanidade ficam em lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de duas ilhas vizinhas."

Se você é fã das obras de Gayle Forman, irá adorar essa história, que para mim aumentou a minha admiração por sua escrita, pois mesmo abordando temas sérios, ela deixa leve e de fácil compreensão, além de Gayle sempre foge do comum, se você leu 'Se eu Ficar' entende muito bem a forma que a autora quer que vejamos o mundo, o que não foi diferente no 'O que há de estranho em mim', um livro que vai fazer você refletir e analisar fatos que acontecem em nossos tempos. Uma trama muito bem escrita e estruturada, com cargas dramática, reflexivas e mostrando que a amizade é algo forte mesmo em piores momento da vida. Uma leitura recomendada e que não irá te decepcionar.

                                  "Sempre dance conforme sua própria música."




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